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Mercedes-Benz, produziu caminhões a etanol

Motivação, foi o extinto Pró-Álcool

Por: Mauro Paes Corrêa
21/05/2025 às 12h02
Mercedes-Benz, produziu caminhões a etanol
Foto: Merce-Dengo/Blogspot/PB

     Na década de 1980, a Mercedes-Benz do Brasil ousou ao lançar caminhões equipados com motores movidos a etanol. Embora pouco populares e produzidos em quantidade limitada, esses veículos representam um capítulo curioso e inovador da indústria automotiva nacional.

      Entre 1984 e 1987, três modelos principais foram equipados com motores Ciclo Otto movidos a etanol: os médios-pesados L-2215 6x4 e L-2216 6x4, além do leve L-610. Esses caminhões traziam sob o capô o robusto motor Mercedes-Benz M-352-O a etanol, de seis cilindros e 150 cavalos de potência.

       O desenvolvimento desses veículos foi resultado de uma parceria entre a Mercedes-Benz e a agroindústria canavieira, impulsionada pelo programa Pró-Álcool, criado pelo governo brasileiro em 1975 para reduzir a dependência do petróleo. O objetivo era substituir em larga escala os combustíveis derivados do petróleo por etanol, aproveitando a cana-de-açúcar como matéria-prima principal.

       A utilização do etanol exigiu soluções técnicas específicas. Os engenheiros da Mercedes-Benz destacavam como vantagem a possibilidade de trabalhar com altas taxas de compressão, aumentando a eficiência do motor. No entanto, essas taxas elevadas também impunham maior esforço sobre componentes como bronzinas e virabrequim, exigindo uma estrutura interna reforçada para garantir confiabilidade e durabilidade — características essenciais em veículos comerciais.

   O motor M-352-O, de quatro tempos e seis cilindros verticais, operava em regimes de rotação mais baixos, semelhantes aos motores diesel, o que ajudava a reduzir o desgaste e o consumo de lubrificantes. Mesmo assim, o consumo de etanol era elevado: relatos da época apontam que o L-2215 fazia cerca de 800 metros por litro, com um tanque de 300 litros, o que limitava bastante sua autonomia.

      Apesar da inovação, os caminhões movidos a etanol enfrentaram obstáculos práticos. Além do alto consumo, o torque dos motores era inferior ao dos tradicionais a diesel, prejudicando o desempenho em aplicações mais pesadas. Com a queda do preço internacional do petróleo e a valorização do açúcar no mercado externo, a produção de etanol deixou de ser prioridade para os usineiros, levando a frequentes crises de abastecimento.

        Esses fatores econômicos e técnicos minaram a confiança dos consumidores e das montadoras, levando ao declínio do programa Pró-Álcool e ao desaparecimento dos caminhões a etanol das linhas de produção. Hoje, esses modelos são raridades que contam uma história de ousadia, inovação e dos desafios de se apostar em alternativas sustentáveis no transporte brasileiro.